Há dois anos, quando o País recebeu a Copa do Mundo, 580 pessoas foram mortas por policiais somente no Rio, 40% a mais que no ano anterior. Em 2016, já são 100 pessoas assassinadas em operações de segurança, a maioria, jovens negros
Foto: EBC
Rio de Janeiro – Em 2014, ativistas e moradores de comunidades carentes de Copacabana protestaram nas ruas do bairro contra a Copa do Mundo e pelo fim da violência policial nas favelas (Fernando Frazão/Agência Brasil)
A tática de “atirar primeiro e perguntar depois”, associada ao abuso da força e à impunidade policial foram graves erros da segurança pública na Copa do Mundo de 2014 no Brasil e que se repetem às vésperas das Olimpíadas, alerta a Anistia Internacional.
A organização não governamental divulga nesta quinta-feira relatório afirmando que o Brasil reprisa “erros graves” que elevaram a letalidade policial em 2014 e agora, a dois meses dos jogos. Para a entidade, está dada a receita para o desastre. “Em 2009, quando o Rio foi escolhido para sediar as Olimpíadas 2016, as autoridades prometeram melhorar a segurança para toda a população. No entanto, ao longo desse período, 2,5 mil pessoas foram mortas pela polícia somente na cidade e a justiça foi obtida em uma parcela mínima dos casos”, denunciou o diretor executivo da Anistia no Brasil, Atila Roque.
A publicação A violência não faz parte desse jogo! Risco de violações de direitos humanos nas Olimpíadas Rio 2016, detalha abusos e violações de direitos humanos pelas forças de segurança na Copa do Mundo. Cita uso desproporcional da força contra manifestações de ruas, com detenções irregulares, contabiliza a letalidade policial e indica que o número não está caindo.
Há dois anos, quando o País recebeu o campeonato mundial de futebol, 580 pessoas foram mortas por policiais somente no Rio, 40% a mais que no ano anterior. Em 2016, já são 100 pessoas assassinadas em operações de segurança, a maioria, jovens negros favelados. Em 2015, um em cada cinco homicídios no estado foi cometido pela polícia, totalizando 645 pessoas mortas, número 11% maior que o de 2014.
Na avaliação de Atila Roque, a política de segurança do Rio coloca em risco o legado olímpico, prometido pelas autoridades para justificar investimentos públicos nos jogos. “A tática de ‘atirar primeiro e perguntar depois’ acaba por colocar o Rio entre as cidades onde a polícia mais mata no planeta”, destacou  o direto
O abuso da força e a impunidade dos agentes públicos, destaca o documento da ONG, deixam “um rastro de dor e sofrimento” e são “uma receita para o desastre”, afirma.
A Secretaria de Estado de Segurança afirmou, em nota, que a segurança pública durante a Copa do Mundo teve aprovação de 92% dos entrevistados, segundo pesquisa conduzida pela Embratur, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas.
Com a prioridade de preservar a vida e reduzir a criminalidade, a secretaria informa que diminuiu o uso de fuzis, investiu na formação de policiais para uso progressivo da força e fez investigações de mortes decorrentes do que classificou como “oposição à intervenção policial”. O órgão estima que essas mortes caíram pela metade entre 2007 e 2015, totalizado 685 vítimas.
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Brasília – Polícia Militar do DF durante protesto contra a realização da Copa do Mundo próximo ao Estádio Nacional de Brasília. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasi